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Sergius Dizioli

O silvo da serpente

O silvo da serpente

O poeta empunha a pena e recorta versos pelas paredes

O artesão moldando em pedra silente, polindo as arestas

As águas correm negras pelas sombras de sua ordenação

Os cabelos lisos como ramagens das geométricas árvores

Luzem sob a noite sinistra em que o vento se move lento

No fundo toca blues e a guitarra declama seus lamentos

Onde está o infinito, onde se guarda mistérios de ontem

A ideia que se teve enquanto ouvia o silvo das serpentes

O tempo é o engano e somos seus prisioneiros maquinais

Primeiro a vertigem que se desdobra e precede a queda

Os fardos que nos oprimem, nós mesmos os construímos

Os espinhos são os que semeamos pelo chão do caminho

Só o amor permanece tal núcleo de uma força imperiosa

Que cada um de nós aspira para sentir que está vivendo

Para esconder meio ao poema uma ou outra linha serena

Sútil como o voo da ave, tão breve como a voz da amada

Nessa arquitetura da palavra, sob o véu de tantas noites

Venço abismos, cavalgo enigmas, vou ressurgir em branco

Como a folha sem pauta que guardou meu fogo primitivo