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Sergius Dizioli

Partida

Partida

O frio austral revisita o poema perdido na tarde à beira mar

E o poeta eterniza a palavra lançada sobre a calma do papel

Que auscultou dos lábios do vento em sua tristeza silenciosa

Grito teu nome talhado em minha pele como antiga cicatriz

Para te dizer da imensa mudança a qual ainda não acreditas

Carrego secretos sonhos infantis e navegares intermináveis

Trago sons de flauta e perfume de flores a procura do gesto

Que possa afastar os fantasmas febris e secar tuas lágrimas

Pois jamais se restabelecerá o abandono, o vazio da solidão

Para que só o verbo amar, presente e futuro seja conjugado

Escuta meu coração como fosse a última badalada da tarde

Encontra-me onde a paixão se recolhe, deita no meu ombro

E eu te pronuncio as sonoras sílabas do amor entre a bruma

Para que me escales agreste tatuando marcas em meu peito

E quando amanhecer reste um tanto de ti além deste desejo

Pois terás partido com as estrelas que se vão ao fim da noite

Nos meus ouvidos ainda ecoam teus gemidos entre os lençóis

Deixe-me um último sorriso nesta madrugada que emerge

Deixe-me mais um doce suspiro antes que tenhas que partir

Da janela nos dias distantes em vão choraremos sob o gris

Volto ao silêncio antes de acordarem dolorosos fantasmas

Nada existe do outro lado mar a não ser o que sonhamos