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Sergius Dizioli

Nossa língua portuguesa (Parte I)

Desde o surgimento de uma então nova ciência no século XIX, a linguística, que é contemporânea à teoria evolutiva dos seres vivos de Darwin & Wallace, a relação entre ambas é objeto de debates.  As teorias de Darwin (e Wallace) têm eco na linguística e de acordo com o linguista norte-americano Willian Croft estas se relacionam em pontos principais: Evolução da Linguagem, Origem genética das línguas contemporâneas e Teoria evolutiva da linguística.

   Segundo ele a evolução linguística é um processo biológico; que a transmissão de caracteres biológicos inclui a linguagem e que todo esse processo evolui como o ser evolui no aspecto biológico.

   Tudo isto que está sendo dito aqui é feito de forma fortemente resumida, vez que o objeto principal desta postagem não é discutir a Teoria da Evolução.

    Mas é certo que Darwin admitia que as diferentes linguagens caminhavam em paralelo com suas teorias evolutivas, fato este que pode levar certas palavras e mesmo idiomas completos à extinção como ocorre com determinadas espécies biológicas.

    Entre esses pontos de similaridade Darwin reconhecia, entre outros os seguintes: “ambos podem ser classificados naturalmente, de acordo com a descendência, ou artificialmente, por outros critérios”; “línguas e dialetos dominantes se expandem vastamente”; “e podem levar à extinção gradual de outros”; “uma língua, como uma espécie, uma vez extinta... nunca mais”; “uma mesma língua jamais tem dois lugares de origem”; “diferentes línguas podem ser misturadas ou cruzadas entre si”; “existe variabilidade em toda língua, e “novas palavras são continuamente criadas” e “palavras únicas, assim como a sua língua, gradualmente tornam-se extintas”.

    Como prova desse fato é que temos palavras em português que aos poucos vão se modificando, evoluindo e mesmo extinguindo. Por exemplo “Vossa Mercê”. Um pronome de tratamento em desuso que acabou por dar origem a “você”.

    Assim, observamos que “Tu” - pronome pessoal da segunda pessoa do singular do caso reto, indicando aquele a quem se fala ou escreve, funcionando como sujeito ou como predicativo, vêm em muitas localidades sendo substituído por “você” que apesar de carregar a concordância com a 3ª pessoa indica aquele a quem se fala ou escreve.

   Mesmo sendo quase desnecessário exemplificar: a) Tu estás na nossa lista de convidados; b) Você está na nossa lista de convidados; ambas têm o mesmo significado, tratando de uma forma de evolução (involução?) da língua.

 A linguagem começou com um único sopro. O ar que saia dos pulmões foi cada vez mais modelado por inúmeras possibilidades de abertura da boca e movimento dos lábios e da língua.

   Sobe, desce, entorta, recolhe. A cada mexida são formadas vogais, consoantes, sílabas, palavras. Se você tivesse nascido e crescido isolado de outros seres humanos, provavelmente emitiria apenas gemidos e grunhidos.

   Apesar de ninguém saber exatamente quando surgiram os idiomas, há algumas certezas: a língua é viva, acompanha um povo ao longo dos tempos, expressando uma maneira de organizar o mundo em nomes e estruturas linguísticas, mudando e reinventando-se com as pessoas.

     As transformações acontecem nas ruas e nos prédios de grandes instituições, na linguagem dos sermões, das palestras, dos discursos de políticos e advogados (com seus vocabulários tão peculiares).

     As mudanças também ocorrem na escrita, seja aquela feita com a ponta do lápis, na máquina de escrever ou no computador. Das poesias aos documentos, nada permanece igual por muito tempo.

     Existem alterações que naturais e outras que decorrem de leis, como é o caso do Acordo de Unificação Ortográfica, elaborado em 1990 e recentemente ratificado pelo Brasil, que pretende igualar (aproximar) as formas de escrever de todos os países que falam (e escrevem) português.

     Mas de onde vêm essas decisões de isto se escreve assim e não assado, porque a atual gasolina e não a antiga gazolina, porque através e não mais atravez e porque muçarela e não mussarela? Todas vêm das regras comuns e do Dicionário da ABL, gostemos ou não.


...continua...