Loading

Sergius Dizioli

Nossa Lingua Portuguesa (Parte II)

A língua como fala se renova mais rápido do que a língua como escrita, já que esta última requer a padronização para ser compreendido por mais gente durante mais tempo. Ademais a oralidade precede a escrita e é muito mais utilizada. Há pessoas que embora falem, não sabem escrever.


   Poucos termos são efetivamente incorporados aos dicionários apesar de surgirem novos termos expressos oralmente ou registrados pela escrita. Assim tornar-se-ão eternos, (observadas, é claro, as regras da evolução e extinção abordada por Darwin na parte I) ao menos disponíveis para sê-lo.   Um vocábulo entra no dicionário quando é usado amplamente e quando escritores ou certos profissionais sentem a necessidade de incluí-lo. É estimado que existam mais de 300 mil palavras na Língua Portuguesa, mas o Aurélio traz pouco mais que a metade - 160 mil verbetes, e o Houaiss pouco mais, em torno de 228 mil.

     Num dia comum, numa cidade média, as pessoas em geral nas conversas cotidianas, porém, utilizam-se de 1,5 mil a 3 mil deles. A expectativa é que um aluno que chega à 4ª série devesse conhecer pelo menos mil.

    A língua é o que faz um recorte do real e define, em palavras, os contornos do que vemos. Temos uma língua complexa que usa definições particulares para coisas que em outros lugares a linguagem é mais simplificada.

 Enquanto na língua portugueses definamos o espectro solar por seis cores nomeadas individualmente (azul, amarelo, verde, vermelho, laranja e roxo), no País de Gales, na Europa, usam apenas duas: “gwyrdd”: correspondente ao roxo, azul e verde; e “glas”, para definir as cores quentes (do vermelho ao laranja).

     Mudanças são inevitáveis em qualquer língua, pois como dissemos esta reflete o tempo presente na qual está sendo falada ou escrita.

     A Língua Portuguesa que usamos neste texto é a que se usa em 2021, bastante diferente daquela que se falava e escrevia na década de 1940 e em épocas anteriores. Certamente será diferente também daquela que será usada num futuro a médio prazo.

     Não seria possível reconhecer no latim que se falava no Império Romano, daquele latim tronco que deu origem ao nosso idioma. Assim também será com a língua portuguesa que se falará em mais 500 ou 1000 anos, tudo num processo natural de mudanças.

   Há vários processos de mudança e podemos começar falando do processo cognitivo que diz respeito ao modo como se processa a linguagem no cérebro. Iniciamos mencionando a mudança analógica, na qual uma palavra é modificada para adaptá-la a um modelo preexistente. Por exemplo: friorento (seria friento) tem "or" por analogia com calorento.

   Outra mudança no processo cognitivo é a metaforização, em que se faz a transposição de sentido. Assim, quando, alguém depois de realizar uma tarefa especialmente trabalhosa diz "estou quebrado!", ele não quer dizer que se partiu em vários pedacinhos. Ocorre aí um exemplo de derivação do sentido original concreto para um conceito abstrato.

     Esses são alguns exemplos de fenômenos cognitivos. "Submetemos a fala a diversos processos mentais intuitivos e inconscientes, fazendo novas inferências".